sábado, 7 de setembro de 2013

[Neo Geo] Art of Fighting

Aqui começou uma grande história de amor com a SNK
Meu primeiro jogo de Neo Geo AES não poderia ser outro.

Art of Fighting, ou Ryuko no Ken como veio ao mundo, foi um marco em minha relação com jogos de vídeo-game.

A primeira MVS a pisar em terras nevenses só apareceu por aqui no começo de 1995. Um tanto tarde, mas viver em cidadezinhas de interior é isso, tudo demora.

Essa MVS era do modelo que suportava quatro cartuchos e veio com Art of Fighting, Fatal Fury 2, Samurai Shodown e World Heroes. E apareceu em um boteco no quarteirão onde moro.

Vale lembrar que até então, os únicos jogos de luta que tinham dados as caras por aqui eram Street Fighter 2 e Mortal Kombat. De resto, apenas Beat' em Ups, PacMan e coisas velhas.

Street Fighter 2 tinha feito sucesso. Era apenas uma máquina em uma locadora de filmes. O cantinho dos arcades naquela locadora logo ficou bem pesado. Ar carregado de fumaça de cigarros, pessoas de caráter duvidoso, e toda sorte de socialmente excluídos e mal encarados.

O estabelecimento que tinha só arcades tinha um ambiente pior ainda.

Pra jogar, tinha que ir em lugares assim.

No fim das contas, o boteco em que a MVS deu as caras, apesar dos pesares, era um ambiente bem mais tranquilo que os demais.

Apesar de ter chegado tardiamente, a cidade não tinha muitas opções de ver jogos mais recentes. A primeira locadora de video-games só abriu em 1994, e jogo de luta só Street Fighter 2 de SNES

Aquela MVS trazia novos horizontes para a cidade. E assim que chegou, chamou atenção de todos no bairro. Sucesso imediato.

A princípio os jogadores variavam bastante o jogo. Logo World Heroes deixou de ser jogado. Samurai Shodown foi o segundo jogo a ser deixado de lado, e a preferência já estava polarizada entre Art of Fighting e Fatal Fury 2, com vantagem para Art of Fighting.

Passado um tempo, só se jogava Art of Fighting.

Aqui começava a nascer uma gigante dos fighting games
Curioso. Principalmente porque Fatal Fury era mais amigável [se bem que muitos ali não tinham jogado Street Fighter 2], e, como jogo de luta, um jogo melhor que Art of Fighting. Não sei se os planos diferentes, ou a falta de habilidade total em executar os golpes especiais da maioria dos jogadores, ou a configuração de Art of Fighting estar como melhor de cinco rounds, influenciaram, mas fato é que Art of Fighting se tornou o hit do bairro.

Durante o dia todo as pessoas formavam roda em volta da MVS para jogar, ou ver alguém jogando, Art of Fighting.

E eu era um destes.

Art of Fighting logo de cara me ganhou. Perto do que já tinha visto, aquilo era lindo demais! Sprites gigantes, zoom, pre-bouts, provocação, barra de ki, danos no rosto das personagens, aquela trilha sonora fantástica!

Hoje as pessoas podem ter se esquecido completamente aquele jogo, mas com ele a SNK dava uma mensagem clara à Capcom: eu vou te incomodar!

Olha os fulanos: é ou não é seção kickboxer total?
O jogo é basicamente usar a fómula de Street Fighter, mas a SNK sabe como incrementar as coisas.

Primeiramente, crie uma história mais elaborada e envolvente. OK, pode ser o clichê do clichê, mas que garoto não adorava aqueles filmes estilo "Seção Kickboxer"? Temos uma motivação para as personagens estar ali, temos conversas entre as personagens, somos apresentados às suas personalidades. Adicione aí que o jogo estava em espanhol, mais fácil de se entender alguma coisa que o inglês, falado por ninguém então. Depois, uma trilha sonora que traduzia o clima do jogo perfeitamente. Várias vozes gravadas. Bônus games criativos. A interação com a barra de energia, que lembrava até as personagens de Saint Seiya queimando seus cosmos.

Qualidade padrão SNK: história em quadrinhos no manual do jogo para apresentar melhor a história
As descobertas graduais por parte do pessoal [que não tinha muita habilidade] empolgavam a todos. A primeira vez que o HaohShoKooh-Ken foi realizado, comoção geral. Aquilo era novo. Soltar um hadouken era uma coisa, mas um golpe especial daqueles era outro patamar! A primeira vez que se rasgaram as roupas da King, e todos descobriram que ela era mulher, foi o assunto do dia. Cada macete descoberto, a cada novo patamar que se chegava no modo arcade, era uma animação só. A primeira vez que o jogo foi terminado, com um cara gastando umas 60 fichas, foi quase que um megaevento. Estávamos todos ao redor do cara, torcendo como se fosse um jogo de futebol, até que finalmente o jogo foi terminado. Poucas vezes vi uma comoção tão grande como entre aqueles jovens por este jogo.

Realmente marcante.

Curioso que a minoria gostava do Ryo. Excetuando um ou outro, eu incluso, todos preferiam e jogavam com o Robert. Um cara rico era um ícone que chamava mais a atenção que um artista marcial de laranja.

O jogo também contribuiu para a reciclagem na cidade. Naquela época o dono do boteco trocava um casco [será que em algum outro lugar se usa este termo para chamar as garrafas vazias de cerveja e refrigerante?] por uma ficha. Muitos aprenderam a roubar garrafas para conseguir jogar...

Por tudo isso, não é surpresa que meu primeiro jogo de Neo Geo AES tenha sido este. 

Foi um jogo barato. Ele é bastante comum. Talvez por ter vendido bem em seu lançamento, ou talvez por a SNK ter apostado no seu console, ou porque os consoles da geração 32bits não tinham ainda sido lançados e arrebatado o mercado. O fato é que valeu cada centavo dos míseros 15 dólares que paguei no jogo.

3 comentários:

  1. Ja participei de rodas com comoção por ver alguém jogar... é fantástico a sensação!

    Passei a infância levando cascos em bares...

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  2. Fiquei emocionado com história do Autor, realmente, o jogo cheio de inovação fez sucesso no seu bairro e nos outros cantos do Mundo, até surgir outros títulos da SNK e cair no esquecimento.

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    1. Valeu, Vanderson!

      Infelizmente o título caiu no esquecimento, mas ainda é uma série que eu tenho muito carinho.

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